27.6.24

artesão no parque industrial

contaminado pelo instagram, pela ideologia industrial e anti-vida daquele lugar que fede a fascismo e publicidade. saturação de imagens, excesso do excesso, um estupro da mente. nada me inspira, nada do discurso se comprova além de cínico, é moedor de cabeça e só

quanta vontade de fazer imagem: o sentimento que cola é que ela vai nascer morta. não há sentido pra mais imagem, não há tempo, não há olhar nem cuidado nem interesse nem disposição. insistir em ocupar um espaço no inferno mingua tudo o que eu tenho pra criar livremente, prisão, vivendo como fantasma que vê e vê e não é visto

(esse blog é minha salvação)

19.6.24

Sessão dupla: Seconds + Lost Highway

Quando dois filmes conversam entre si com 3 décadas e 24 horas de distância.

Outro dia assisti a O Segundo Rosto (Seconds, 1966), de John Frankenheimer, no dia anterior reassisti (pela sexta vez, eu acho) Estrada Perdida (Lost Highway, 1997), de David Lynch, e além de dois filmaraços eu pude assistir também a uma conversa entre eles.

Dois filmes que iluminam a falência do homem branco, entre três milhões de coisas cada. A masculinidade financiada pelo capitalismo patriarcal engasgando na sua mesquinhez e sombra de onipotência. É isso aí mesmo, o homem branco, o sujeito-base de toda ficção - pois todo o resto da complexidade humana é nicho de mercado - enfim descobre que o buraco é mais embaixo.

Dois filmes sobre um homem que quer ser outro. Ele é capaz de abdicar da vida para fugir eternamente dos efeitos dos seus atos e perseguir até o infinito a ilusão da liberdade do homem feito pra ser sozinho e calado, viver uma não-vida, uma vida estética dentro da própria cabeça. Uma vida virtual.

Cartazes tirados do Letterboxd, lá editados sem mais informações além dos nomes dos filmes. As informações (nome de quem dirige, elenco, letrinha miúda) são parte essencial, pra mim, do cartaz de filme, mas escolhi essas versões por serem, em sua síntese, ilustrativas pra breve análise que farei acá

Sobre os convites da festa:

Lost Highway dispõe dois rostos sem olhos. A escuridão sobre a luz, e suas bocas: o que eles dizem (ou não dizem), o que eles trazem, não o que aconteceu. Não vemos algo que acontece, mas a ponte para sabermos alguma versão do que acontece. Num cartaz sem olhos, os olhos são os nossos. E o olho é a lente de uma câmera. 

Seconds nos coloca na cena como uma mosca, frágil, infiltrada, o formato circular da lente olho de peixe é como um espelho da nossa íris. Nos veste a roupa de voyeur frente a uma cena violenta. Nos torna impotentes, atados, falar não adianta: vemos a cena ou estamos nela?

Curioso notar a escolha de tipografia dos dois cartazes. Um amarelo-placa de trânsito, objeto que carrega uma mensagem, que é efetiva ao ser vista. Uma linha vazada na vertical indica que as letras são uma construção, como chapas de metal ou ferro. Estão presas em algum lugar ou foram pintadas através de um stencil. Como um letreiro ou a sinalização da estrada. Uma estética industrial-urbana, rodoviária, algo de fabril, algo de máquina.

13.6.24

O sonho

 

Organizar som

Minha relação com o fruitloops ainda tem sido um tanto compulsiva (mas hoje menos), no sentido de ao abrir o programa eu só conseguir sair ao sentir que finalizei uma faixa completa. Às vezes é rápido, às vezes se sobrepõe às obrigações pelo menos mentalmente - trabalhar com a liberdade de freelancer inspira a desorganização e a busca pelo prazer, ainda mais quando o projeto da vez não me é tão instigante criativamente.

Ficar tranquilo com isso também é um processo que tenho dominado melhor, porque ainda sou muito apegado ao ideal de trabalho carteira assinada de 8 às 18h e qualquer escolha que fuja dessa dinâmica ao longo do meu dia me parece uma violação da grande ordem. Crio coisas variadas, balanceio as atividades e entrego o trabalho, tudo certo, e ainda me sinto errado. Mas hoje menos.

No fim de maio o David Lynch anunciou algo pra se ver e ouvir. Paralelamente, começava a estruturar a ideia de um álbum, um "melhores hits" das minhas musiquinhas, ideia alimentada pela vontade gritante de mostrar a brincadeira. Estruturar como projeto é uma delícia e por isso vou desenvolver todo um projeto gráfico pra portfoliar. Pois, né?

Talvez eu use o som como um campo aberto de prazer porque crio sem as pretensões que a criação de imagem me traz agora, no entrelaçamento entre expressão artística e trabalho, o que e o que se antecipa. Uma dicotomia entre verdadeiro e comercial e o também apego a um desejo de sucesso, desejo de criança que se encantava com os desenhos do Cartoon gravados pela prima numa VHS e se via dentro da televisão no futuro, um fazer "dar certo", algo que São Paulo emana pelos poros do concreto sendo a boca do escapamento da formatação neoliberal do modo de viver.

Dia 5 de junho o Lynch anuncia um álbum de música. Papai e eu estamos conectados mais uma vez, penso kkkkkk

Hoje acordei e aproveitando um instrumental gostoso que criei ontem, saiu do caldeirão um certo teaser pro projeto do compilado de sons que vou organizar, primariamente, pra subir aqui no blog e ficar ouvindo até cansar. Quem mais ouvir dentro de suas casas aí deixo pro universo.

Como organizo som como desenho, como colagem, como o que cozinho, a última faixinha que saiu de mim foi o Lima Duarte comemorando por não estar mais "isolado do mundo". Vontade de mostrar mesmo, tudo o que faço faço pra mim e isso permite que eu faça, mas eu faço pro mundo também. Garrafinha na água.

12.6.24

O poder do blog

 O poder do blog

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Adoro títulos. O título que se dá a algo que não é o título. Como disse em relação ao cartaz de filme, o título é uma amarração do que a coisa é, pode resumir ou pode abrir mais, adicionar. O título de uma música é um elemento do enigma e não precisa significar nada, é a objetividade da contradição completa, o atestado do incompleto. Te guia por um caminho que na verdade é você quem está guiando.

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O título de uma postagem - postagem é linda. Postar no correio, garrafinha na água. O título de uma postagem de blog é como um chapéu: você desce o olho e lê a postagem e pode ou não haver chapéu.

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Título
Título.

Faz até eco

11.6.24

parapimba.

desenhar/fazer colagem com som


Letra completa:

🎶

A gente vivia aqui, ó, escondido do mundo
Era como se a gente não existisse e o mundo não existisse pra nós
Era uma tristeza de dar dó

🎵

A gente vivia aqui, ó, escondido do mundo
Era como se a gente não existisse e o mundo não existisse pra nós
Era uma tristeza de dar dó

🎶

A gente vivia aqui, ó, escondido do mundo
Era como se a gente não existisse e o mundo não existisse pra nós
Era uma tristeza de dar dó

🎵

A gente vivia aqui, ó, escondido do mundo
Era como se a gente não existisse e o mundo não existisse pra nós
Era uma tristeza de dar dó

🎶

Mas foi aí que aconteceu um reverso
Um sinal que veio de lá do céu
E catapimba

E catapimba

E catapimba

E catapimba

E catapimba

🎵

E catapimba
E catapimba
E catapimba

9.6.24

Djavan

     A voz limpa de Djavan vai num súbito trêmulo de quem vibra verdade. "Só eu sei", esquinas, vira, só ele sabe o que é ser Djavan voltando pra si uma voz de lá entregue um ouvido de cada vez Kremlin, Berlin, assim soa um fabricante de imagens vistas não mostradas para mim. Cantar a palavra a terra, vibra tectônica num vinil - plano que oscila. O plano fissurado ruidoso que chia em clareza pois está lá, girando como um relógio, girando como o tempo, dois tempos, quatro tempos, topázio, Djavan lado A: vira.
    Virado a sair sombra de instrumento humano, Djavan quer soar um cozinheiro guardião de cores e nomes, verbos vibram na ondulação do plano que vacila, vez de trova hão de ir ao centro do ouvido, cintilante, a onda da lâmina de um guerreiro, guardião cozinheiro, se não mata fere, velho amigo sem a mudez do D.
Escrevo enquanto ouço uso óleo e vejo muito, ele me fez ouvir palavra como filmes, como fotos e me esbaldo em prazer e verdade, escrevo só escrevo o amor é como um raio, como filmes, como raio ele diz e eu enxergo: o disco revirado em tempo, o plano que dança oscilante em certeza, como a ação do som (como um rádio) na lâmina que vira cobra que vira ilusão que vira o vinil, o raio, a mediana, a roda o olhar para longe do reflexo de sol que rebate da janela e grava minha íris - a retina sem sina, vê dali a flor girando girando e uma sede de jarra d'água, suando no meu ouvido.
Djavan ser pop e luz, pai e mãe, estive perto dele num sonho e ouvi dois segredos.

6.6.24

O convite pra festa

Editoria cartaz de filme. Fazer cartaz de filme é um meio de traduzir uma obra em uma imagem, é um desafio.

O cartaz de filme é em essência um objeto estético a serviço do consumo da obra. Tem que atrair quem bate o olho no cartaz pro ato de assistir ao filme ali representado. Isso que me atrai, poder construir uma indicação, um oferecimento da oportunidade de assistir a um filme por meio de uma imagem.

Eu poderia (e gostaria de) falar pra todo mundo que eu conheço: assiste Paris, Texas. Baita filme. E de fato eu falo, produzindo um cartaz pra essa obra. Um cartaz pessoal, como todos que faço (e todos que são feitos?), que nasce como nasce sendo resultado do meu ato de assistir ao filme. Ele imprime uma fotografia dessa experiência - experiência que não acaba quando o filme termina, mas que fica, vira memória, pensamento sobre o filme, inspiração, um eco do percurso sensorial vivido.


A possibilidade de manufaturar uma imagem que mostre o filme sem mostrar. É o convite pra festa. Sintetiza sem resumir, adiciona, deixa enigmas. É um antes de ver o filme e outro depois, permanece andando com a obra. É isso que busco ao fazer cartaz de filme.

Beijos & abraços

Amanheci ouvindo disco


Esse bichinho é meu amigo e ele também sou eu

5.6.24

Ter um blog

É como eu aprendi a estar na internet. Deu muita vontade de ter um blog de novo: aí eu fiz um.